terça-feira, 13 de outubro de 2009

SEXO!!!


Vou começar esse post com uma afirmação surpreendente: TODOS os nossos antepassados fizeram sexo! (claro, a partir do surgimento da reprodução sexuada...). Se por um acaso um deles tivesse reprimido, não estaríamos aqui...todos eles, sem exceção, alcançaram sucesso reprodutivo, ou seja, conseguiram sobreviver tempo suficiente, às vezes sob condições bastante inóspitas, até a idade reprodutiva, disputaram uma fêmea com diversos machos, conquistaram, seduziram e acasalaram, e foram os seus espermatozóides, e não de outros, que fecundaram o óvulo (evidentemente a ótica feminina é idêntica...todos os meus pais e mães experimentaram “daquilo” com sucesso). É óbvio que se estamos aqui isso aconteceu...e não estou me referindo aos antepassados humanos, mas todos os nossos ancestrais, como os que viviam no mar, ou os pequenos mamíferos contemporâneos dos dinossauros, milhões de anos atrás...No meu passado, existe um peixe esquisito que se tivesse optado pelo celibato, eu não estaria aqui!


Somos afortunados...bilhões de candidatos à existência nunca aconteceram, porque seus antepassados falharam em algum ponto anterior à reprodução. É incrível como alguns fatos da vida são ao mesmo tempo muito banais, mas muito assombrosos. Nós não apenas vencemos uma corrida com milhões de outros espermatozóides (sendo que cada um produz uma pessoa diferente, já que carrega outra combinação de gens...), mas descendemos de milhares de campeões de sobrevivência...


Após essa introdução, vou chegar onde gostaria: por que o assunto sexo é (e sempre foi) tão polêmico? Por que não pensamos em outra coisa? Por que ninguém (absolutamente ninguém...) consegue ficar sem pelo menos pensar nisso? Por que, mesmo após milhares de anos de repressão religiosa, essa continua sendo a maior fixação humana?

As respostas para essas perguntas, como já devem ter adivinhado, passam pela evolução humana. Como disse o famoso biólogo Dobzhansky, “nada em biologia faz sentido exceto sob a luz da evolução”. Imaginem só...por milhões de anos, os animais que mais deixaram descendentes foram os que mais fizeram sexo...então houve uma pressão evolutiva no sentido de privilegiar gens que tornavam seus hospedeiros mais “safados”...se eu sou um gen que controla uma proteína, que por sua vez atua na produção de hormônios sexuais, ou qualquer substância que nos auxilie a ficar “prontos” na presença de uma fêmea

(já sabemos que nosso principal órgão sexual é o cérebro...O chamado diencéfalo ou cérebro primitivo, comum a todos os mamíferos, intervém através do hipotálamo no desejo, no interesse sexual e também recolhe as informações que chegam do exterior e dos hormônios, controlando e dando as respostas da excitação sexual, ejaculação, sensações de prazer e regulando as respostas emocionais e afetivas no comportamento sexual)


com certeza estarei presente em praticamente todos os seres futuros...então o conjunto de gens que, quando reunidos no mesmo organismo, o tornam “super safado”, será cada vez mais comum com o passar do tempo. E acho assombroso perceber que somos fruto de milhões de anos de seleção dos mais safados...(machos e fêmeas...) e só agora (em termos evolutivos, ontem. Se a história da vida ocorresse em um ano, passamos 364 dias, 23 horas e 45 segundos fazendo o máximo de sexo que podemos suportar, sem pudor, regras sociais, medo de AIDS, etc) começamos a tentar reprimir esse processo...Fomos “programados” para pensar em sexo o tempo todo...antes de nós, todos os animais “celibatários” foram extintos, e graças ao bom deus seus gens masturbadores foram com eles...Não é à toa que as religiões perderam a batalha para a pornografia...levaremos outros milhões de anos para selecionar gens castos, e isso apenas se descobrirem alguma vantagem nesse absurdo...

A repressão aos instintos é um dos pontos centrais de qualquer religião, e mais ainda o instinto sexual, já que nada que fazemos é mais primal, animalesco, incontrolável, e até hoje idêntico a vários outros animais. Ver duas pessoas liberando suas fantasias primitivas nos mostra o quanto somos animais, e esculhamba com a tese religiosa da “criação especial”, “imagem e semelhança” (dá pra imaginar deus, ou deusa, se vestindo de bombeiro ou enfermeira...aquela roupinha de Zeus...aiai...)...quem já assistiu aos bonobos fazendo sexo sabe que “papai e mamãe”, “cachorrinho”, “canguru perneta”, “69” não são nossas criações, apenas imitamos esses primos luxurientos...

Evidentemente, a vida numa sociedade organizada só é possível dentro de certas regras de comportamento, e a formação de núcleos familiares também foi importante evolutivamente. Gens que ajudam a produzir animais fiéis, que permanecem junto à fêmea, protegendo suas crias, também foram selecionados. De nada adianta gerar um monte de filhotes, se eles não chegarem à idade reprodutiva...Mas nada mais anti-natural que o celibato...e isso é bem demonstrado pelos inúmeros casos de padres pedófilos, freiras grávidas, etc...

Infelizmente, a repressão sexual imposta pelas religiões só produziu pessoas doentes, infelizes, mal resolvidas...e um monte de órfãos de pai....


É importante, para finalizar, esclarecer que as pressões pela safadeza não atuaram apenas nos machos. O clitóris, a lubrificação, o entumescimento dos seios, o arrepio atrás da orelha, essas coisas só existem por ser fundamental que as fêmeas gostassem da coisa...

sábado, 3 de outubro de 2009

Mais ceticismo....

Dando continuidade ao meu pretensioso manual sobre a importância do ceticismo, já falei que existem vários motivos para sermos cuidadosos em relação às nossas crenças. Isso por que invariavelmente caímos em “armadilhas” quando nos deparamos com informações...fomos programados para preferir histórias à estatísticas, não suportamos o papel do acaso e das coincidências, gostamos de simplificar nosso raciocínio, confiamos demais em nossas lembranças, e temos a tendência inata de ignorar evidências que contradizem nossas idéias...ou seja, buscamos sempre “confirmar” o que já acreditamos...Se gostamos muito de cerveja, iremos prestar enorme atenção à reportagem que destaca seus benefícios à saúde, mas pularemos a página da revista que lista os malefícios potenciais do álcool. Isso é conhecido como “estratégia confirmatória”...usamos todo o nosso poder de persuasão para nos convencer que nossas crenças estão corretas...Como disse Michael Shermer, “pessoas inteligentes acreditam em coisas bizarras porque são habilidosas em defender as crenças estabelecidas por motivos não-inteligentes”. Se admiramos um goleiro, procuramos de todas as formas por falhas nos defensores, ou no gramado, que justifique o gol tomado. Caso contrário, ignoramos qualquer evidência que vá a seu favor, e determinamos: frangueiro!

E isso vale para tudo: pessoas que não gostamos, quando erram, nos dão a delícia da confirmação...mas nunca paramos para observar as boas obras que realizam. Um lugar muito fácil de observar essa nossa tendência é durante um jogo de truco, com jogadores experientes (isso vale pra qualquer jogo de azar...). Todos são orgulhosos de suas estratégias infalíveis, e quando ganham nunca deixam de bradar suas brilhantes “sacadas”. Mas quando perdem nunca foi seu sistema de jogo o culpado, mas eventos aleatórios fora de controle (o baralho, o corte, o outro que jogou antes da hora, etc...). Todos nós, quando temos “orgulho” de alguma habilidade, racionalizamos nossos erros, falhas, perdas, fazemos qualquer coisa exceto admitir que podemos estar errados naquilo que acreditamos.

Um dos aspectos curiosos disso é que em muitos casos fazemos com que profecias se cumpram, e isso aumenta nossa convicção de que estávamos certos sobre nossa crença inicial. Profetizamos que um aluno é fraco, e terá resultados ruins ao final do ano, e passamos o período o tratando com negligência e descaso, dando muito mais atenção aos que considerávamos capazes...ao final do ano, ele é reprovado...estávamos certos sobre ele! Como sou bom em diagnosticar incapazes!

Gostamos de confirmar...gostamos de respostas positivas...como é bom ouvir um SIM...um exemplo interessante: pedimos para crianças fazerem perguntas para determinar um número entre 1 e 10.000. Se elas perguntam se o número está entre 1 e 5000 e ouvem um SIM, elas vibram. Caso ouçam um NÃO, mostram-se frustradas...apesar de terem obtido a mesma informação útil para a solução do problema! E assim somos programados desde crianças a preferir as confirmações...mas quando adultos, esse nosso traço de personalidade pode levar a conseqüências trágicas, quando ignoramos evidencias contrárias àquilo que queremos acreditar e insistimos em nosso ponto de vista (Os EUA invadiram o Iraque ignorando as evidências contrárias à existência de armas químicas...a frota americana no Pacífico foi destruída na 2ª Guerra porque o General estava certo que o Japão nunca os atacaria, apesar de vários alertas...).

“A causa fundamental dos problemas no mundo de hoje é que os estúpidos tem certeza absoluta, enquanto os inteligentes estão repletos de dúvidas” (Bertrand Russel)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ceticismo...Parte I

Após longa ausência, vou retomar o assunto “ceticismo”. Eu sei que parece esquisito alguém gostar tanto desse assunto, mas pretendo escrever alguns posts que espero demonstrem a importância de se discutir sobre isso, e aí tenho a pretensão de desmistificar um pouco essa palavra, que compreensivelmente é usada de forma pejorativa pela maioria das pessoas. Sempre que digo que sou um cético, observo aquela expressão entre estranheza e nojo nas pessoas, já que invariavelmente associam ceticismo com falta de um padrão moral rígido (alguém que não acredita em nada, e portanto consideraria qualquer comportamento justificável, ou então é aquele chato que está sempre buscando “buracos” nas crenças alheias). Esse é o tipo de cretinice motivada por ignorância, que espero reduzir nos próximos posts...
No post anterior já falei que o ceticismo pode nos livrar de constrangimentos. Mas só por isso alguém deve ficar insistindo que devemos exercitar nosso ceticismo? Não. Isso é o de menos. O que é muito importante é compreender que tomamos nossas decisões baseadas em nossas crenças, ou seja, aquilo que acreditamos afeta completamente nossos julgamentos, influencia nossas ações e portanto define nosso destino. Então aquilo que acreditamos afeta tudo. E a relação entre “exercitar o ceticismo” e “nossas crenças” não poderia ser mais íntima. Portanto, CQD, uma boa dose de ceticismo é vital...

Definição de cético: pessoa que mantém a mente aberta, mas quer ver e avaliar as evidências, exigindo investigação rigorosa antes de acreditar no fato...

Mas não seria tão importante exercitar o ceticismo caso fossemos naturalmente programados para avaliar corretamente as informações que nos passam. E o que ocorre infelizmente é o oposto...temos a tendência a avaliar erradamente o que chega até nós. E por isso todos carregamos crenças absurdas, e somos facilmente enganados. Por exemplo, responda: o que é mais perigoso, ter uma piscina ou uma arma em casa? Se você, como eu, respondeu arma, erramos juntos. E sabe porque? Por que preferimos histórias dramáticas à estatísticas. Mais pessoas morrem no mundo em acidentes caseiros com piscinas do que com armas. Mas ler sobre o garoto que baleou a cabeça de sua irmãzinha é bem mais atordoante...E mais pessoas morrem por picadas de abelhas no mundo que em acidentes aéreos...Mas quem gosta de avaliar estatísticas? E pior, quem tem noção de estatística? (li esses dias que um ex-presidente norte-americano ficou horrorizado quando soube que metade das crianças de seu país tinha inteligência abaixo da média!! Algo precisava ser feito!!). Quantos de nós deixa de comprar um carro porque um amigo disse que teve problemas com o dele, mesmo após verificar em pesquisas que aquele é um dos mais confiáveis modelos existentes? Um relato apenas detona uma pesquisa feita numa base bem maior de dados.
Fomos programados para gostar de histórias, e por milhares de anos ouvir relatos foi a única forma de obter informações...
Além de preferir histórias, detestamos o acaso. Essa é outra palavra demonizada pela maioria das pessoas. Detestamos a idéia de que algo ocorra por simples coincidência. Queremos acreditar que controlamos tudo a nossa volta, e aquilo que nos escapa com certeza teve uma causa. Tudo tem que ter propósito...e isso nos faz mais vulneráveis a acreditar em coisas bizonhas...
Achei muito interessante esse exemplo, retirado do livro “Não Acredite em Tudo o Que Você Pensa”: vamos ganhar dinheiro fazendo as pessoas acreditarem que temos a habilidade de prever as oscilações da Bolsa de Valores (isso vale pra qualquer charlatanismo...). Enviaremos uma carta para 2000 pessoas, que sabemos possuem renda para aplicar em ações. Em metade delas informamos que as ações da Vale irão subir na semana seguinte, e na outra metade que irão cair. Dessa forma, 1000 pessoas receberão uma carta curiosamente premonitória. Ficamos só com essas 1000, e para 500 enviamos carta dizendo que as ações irão subir novamente, e para as demais que irão cair. Depois de duas semanas, 500 pessoas receberam duas cartas seguidas com informação correta e preciosa! Mais duas semanas, e teremos 125 pessoas absolutamente convencidas dos seus poderes, e aceitarão depositar R$ 200,00 na sua conta em troca da próxima dica! Embolsaremos R$ 25.000,00 sem sair de casa, apenas porque as pessoas não podem aceitar que 4 resultados corretos seguidos não seja prova de superpoderes...
E isso acontece o tempo todo...tratamos as coincidências como algo extraordinário, e não aceitamos que muitas coisas ocorrem por puro acaso...e uma das causas disso (eu também sou fanático por "causas"...rsrs) é que o ensino de estatística e probabilidade nas escolas é insuficiente para nos ajudar a analisar as informações e a tomar decisões mais sensatas.
Outro fator que nos leva a tirar conclusões erradas é nossa tendência a confirmar aquilo que já acreditamos, ou seja, prestamos atenção às informações que corroboram nossas teses, e procuramos ignorar quando são contrárias...mas isso fica para o próximo...

George Bernard Shaw
"Dizer que um crente é mais feliz do que um cético é como dizer que um bêbado é mais feliz que um sóbrio. "
Anatole France
"Se 50 bilhões de pessoas acreditam em uma coisa estúpida, essa coisa continua sendo uma coisa estúpida."

domingo, 7 de junho de 2009

X-Men...

Para quem não sabe, no universo dos super-heróis existem humanos com capacidades especiais, adquiridas através de mutações genéticas. Os mais famosos são os X-Men, grupo de mutantes que se reúne para combater o mal, em muitos casos representado por outros mutantes “do lado negro da força”. Além da oportuna discussão sobre preconceito, aceitação das diferenças, superioridade racial, etc, a estória nos deixa (ou deveria deixar, pelo menos...) curiosos com relação a possibilidade de algo parecido ocorrer na vida real. Afinal, sabemos que nossas células sofrem mutações, e podem produzir novas características no organismo. Evidentemente, na ficção surgem características inimagináveis, como lançar bolas de fogo, raios pelos olhos, atravessar paredes, etc. Tudo isso está muito além da capacidade criativa de nossas células, por mais que elas sofram mutações e se recombinem livremente...Mas será que na vida real não surgem criaturas especiais? Ou será que temos isso aos montes, mas apenas em função do “grau” dessa especialidade nós deixamos de nos assombrar? Além disso, como a espécie humana evoluiu ao ponto de combater as determinações cruas da natureza, será que não estamos tratando características especiais como doença? Da mesma forma que mantemos entre nós gens desfavoráveis, já que moralmente condenamos a esterilização de pessoas que carregam alguma doença genética, por exemplo, podemos deixar de perceber características vantajosas...e moralmente também condenaríamos uma política que estimulasse a “disseminação” desses gens...Para clarear a discussão, vou dar um exemplo que me chamou muito a atenção: vocês ouviram falar do Cat Boy? Pois é...o garoto chinês Nong Youhui, nasceu com a capacidade de enxergar perfeitamente no escuro (na verdade, na quase total ausência de luz), seus olhos brilham como os de felinos, e está sendo tratado como portador de uma rara doença (leucodermia). Nada mais é que uma mutação nos gens que “constroem” os olhos, alterando as células responsáveis pela absorção dos fótons que incidem sobre a retina. Suas células são muito mais sensíveis que as de pessoas “normais”. Supondo que ainda não tivéssemos construído uma civilização com nossos códigos morais, e vivêssemos ainda ao sabor da natureza...e supondo que essa característica trouxesse vantagens ao garoto...ele poderia viver mais...ter mais namoradas...após alguns milhares de anos, enxergar no escuro seria comum...e trataríamos como doentes aqueles que não fossem capazes disso...(evidentemente estou ignorando a possibilidade desse garoto sofrer graves dificuldades em ambientes com muita luz...obviamente pode ser uma característica desvantajosa, que pode ter surgido diversas vezes em nossa história evolutiva e desaparecido em todas elas...até hoje viver na escuridão não foi uma necessidade...)
E temos muitos exemplos de pessoas especiais...alguns possuem memória impressionante (li outro dia sobre uma americana que não esquece um rosto, mesmo de pessoas que não encontra a 20 anos...), outros fazem cálculos dignos de um computador, outros possuem olfato apuradíssimo...li também sobre um homem que possui a audição tão absurdamente amplificada que consegue ouvir o movimento de seus globos oculares, e sua respiração o perturba...(por falar nisso, nem todo mundo sabe (eu não sabia até uns dias trás...) mas as ondas sonoras são interpretadas pelo nosso cérebro por dois caminhos diferentes..através do ar, entrando pelos ouvidos, e através da vibração dos ossos do crânio...é por isso que nossa voz é diferente quando ouvimos uma gravação, já que não temos a “interferência” dos sons “internos”, e é por isso também que continuamos a ouvir nossa voz mesmo se bloquearmos a entrada dos ouvidos...pode tentar...)... outros decoram a lista telefônica...e tratamos tudo isso como doença, e nada disso nos assombra, exceto na tela do cinema...caso vivêssemos livres como animais, seria assim?

terça-feira, 12 de maio de 2009

...pseudos...

Quem acompanha o blog já sabe que eu sou um cético, e com orgulho. A minha filosofia de vida me diz que, ou exigimos evidências para acreditar no que quer que seja, ou somos tolos (e invariavelmente já fizemos papel de tolos em nossas vidas...). Mas exigir evidências para tudo não é o mesmo que ter “a mente fechada”, ser refratário às novidades e contrário ao uso livre da imaginação e criatividade. É óbvio que se nos fecharmos em torno apenas daquilo que temos “certeza”, eliminamos a principal ferramenta da ciência, a curiosidade, a capacidade de “pensar fora da caixa”, sair da mesmice e do lugar comum. Os grandes gênios transformaram nossa visão do mundo quando acreditaram em hipóteses aparentemente absurdas, tiveram a coragem e capacidade de testá-las e comprová-las experimentalmente. Mas a princípio eles tiveram que acreditar numa idéia sem muitas evidências.

Mas acreditar que todos os animais se desenvolveram a partir de poucos ancestrais comuns (como Darwin), ou que a luz pode ser onda e partícula ao mesmo tempo (como Einstein), por exemplo, é uma coisa. Outra bem diferente é acreditar na interferência de astros sobre o nosso comportamento, ou que as moléculas de água tem “memória” (base da homeopatia). Mas porque são coisas tão diferentes? Será que a diferença é apenas que algumas coisas “ainda” não foram confirmadas por experimentos científicos? Na minha opinião, esse argumento já é suficiente...porque a pressa? a minha pergunta nesse caso é: por que acreditar em algo que não tem nenhuma comprovação, além de relatos? Não é mais sábio aguardar pelas evidências e comprovações? Pra que correr o risco de fazer papel ridículo numa roda de amigos, dizendo que achou incrível o depoimento do guru que se alimenta de luz? Ou que sua vizinha se curou de câncer no cérebro por causa da energia dos cristais? Existem milhares de coisas interessantíssimas na natureza, comprovadas, que rendem ótimas conversas, com a vantagem de não correr o risco de parecer idiota. Existem milhares de cientistas trabalhando para comprovar diversas hipóteses, e com certeza comprovar a influência de Órion sobre minha propensão a relacionamentos fracassados levaria ao Nobel...mas a astrologia foi inventada 2000 anos atrás (Ptolomeu, 100 DC), quando nem pequenas lunetas existiam, e nossa idéia de cosmos era no mínimo primitiva...coincidentemente, as constelações que afetam nossas vidas são as mesmas e únicas que sabíamos da existência nessa época...a olho nú...e 2000 anos de pesquisas não diminuíram em nada o ridículo dessa hipótese. Ao contrário, hoje sabemos que a influência gravitacional exercida por uma estrela distante sobre nós não é maior que a exercida por uma pessoa ao nosso lado, graças a Newton.
É compreensível que as pessoas acreditem em coisas totalmente sem fundamento, já que a ciência é algo extremamente recente (li esses dias que 90% de todos os cientistas que já existiram estão atualmente vivos...). Os antigos achavam que os objetos celestes eram manifestações dos poderes mágicos de deuses, que “propriedades ocultas” eram a razão de certos processos físicos, como o magnetismo, por exemplo, e que reações químicas hoje banais eram produto da magia...Imagino quantos dos meus antepassados sofreram o constrangimento de apostar em astrólogos, videntes, terapeutas quânticos (ops, esses são enganadores atuais...), dormiram com uma pirâmide embaixo da cama, entre outras cretinices que hoje deveríamos apenas considerar bizarrices de uma época de trevas, mas que infelizmente ainda são comuns. Ainda hoje, um japonês espertalhão vende garrafas de água que foram tratadas “com amor”, e que portanto (e obviamente) suas moléculas foram “melhoradas”, transformando-a numa super-água...não preciso dizer que os negócios vão bem...Então, se nos espelharmos no exemplo de nossos antepassados, que se estiverem em algum lugar devem estar arrependidos e mortos de vergonha por terem acreditado na “Mãe Diná” da época, precisamos ser mais precavidos...e ceticismo nada mais é do que isso...precaução...não ter pressa de acreditar em algo antes de fazer perguntas básicas e corajosas...Antes de acreditar em chacras, reiki, feng shui, linhas geopáticas (minha nossa!!), energias quânticas, paranormalidades, numerologia, tarô, médiuns, e etc, lembremos sempre que faz mais de 10 anos existe um prêmio de US$ 1 milhão esperando o ganhador nos EUA (Fundação James Randi), bastando para ele realizar seus “feitos” paranormais em frente aos cientistas...vários tentaram...nunca seus poderes “funcionam” quando observados por mentes céticas...isso deve no mínimo servir de alerta...É isso, ou então vestir o chapéu roxo e abraçar a “new age” com fervor...afinal, estamos na era de aquário...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Camaleões...

Não consigo pensar em nada mais fascinante na natureza do que os animais miméticos. Assistam esse vídeo (link abaixo) e tenho certeza que irão concordar comigo. Imaginar que essa capacidade foi evoluindo em passos lentos, uma melhoriazinha de cada vez, a cada milhares de anos (no caso das sépias (parentes das lulas) do filme, 15 milhões de anos no total), até chegar nessa capacidade espantosa. Isso porque o mimetismo traz vantagens óbvias aos animais, tanto para se manterem escondidos dos predadores, quanto na hora de surpreender suas presas. Se camuflam melhor, por isso vivem mais, reproduzem mais, os gens que melhoram a camuflagem seguem em frente...Alguns tipos de mimetismo já são bastante impressionantes, como a raposa que muda a cor da pelagem em épocas diferentes do ano (foto acima), bem branca no inverno pra mimetizar a neve, e mais escura no verão, ou o bicho-pau, ou as mariposas que com as asas abertas parecem corujas. É interessante o caso da zebra, já que quando correm juntas (e elas sempre fazem isso...) a massa de listras parecem aos felinos como uma coisa só, e não como animais individuais, e isso os atrapalha. Mas nada se compara aos animais marinhos que se adaptam instantâneamente ao ambiente, como mostra o filme. É assombroso ou não é? Eles conseguem isso porque possuem umas células especiais sob a epiderme, chamadas cromatóforos, contendo pigmentos de cores diferentes, todas ligadas à musculos. E aí o animal dilata essas células que contém a cor que ele deseja (verde, por exemplo) e contrai as demais, ficando verde. Quando percebe que o fundo mudou, outros músculos são acionados, dilatando e contraindo cromatóforos diferentes, e criando a camuflagem. Mas os cientistas ainda não compreenderam totalmente o mecanismo, já que os olhos das sépias não distinguem cores (!). E por que desenvolveram essa capacidade? Porque não desenvolveram couraças ou capas duras, ou seja, são extremamente “apetitosos”, comestíveis, ao contrário de outros animais marinhos. Os animais apetitosos que não desenvolveram armas desse tipo, foram extintos...Ao final do filme, os pesquisadores colocam a sépia sobre um fundo listrado, algo que não existe na natureza, e o bicho fica todo “confuso”, chegando a usar os “braços” para imitar as listras.


domingo, 26 de abril de 2009

Deus da Razão...Parte III

Para aqueles que gostam de mitologia antiga (parece pleonasmo, mas existem as atuais...), li sobre o livro “O cristo pagão” de Tom Harpur, jornalista, teólogo e pastor anglicano, onde ele após extensa pesquisa, conta a história de Hórus, deus egípcio, e achei bastante interessante. Ele era filho de Osiris e Ísis, e alguns textos afirmam que o pai não participou da concepção. Seu nascimento se deu numa caverna, sob a luz de uma estrela, e teve como testemunha três pastores, por volta de 3000 AC. Pouco se sabe de sua vida até os 30 anos, quando é batizado à beira do rio Eridanus. É tentado pelo deus do mal Sut, mas resiste. Existem relatos sobre sua capacidade de andar sobre a água, curar doentes e expulsar demônios. Foi morto pregado a uma árvore, mas voltaria para reinar por 1000 anos. Ficou conhecido como “A verdade, O caminho e A Vida...”. Achei a estória bastante bonita, fiz umas pesquisas e descobri que existem divergências sobre alguns pontos. Afinal, nessa época tudo dependia de relatos orais e alguns pergaminhos...Mas os egípcios acreditaram nisso por milhares de anos, então pra mim está claro que não pode ser totalmente falso...não descobri se ele atende pedidos, mas como ele foi deixado de lado nos últimos tempos, vou tentar contato e ver no que dá...

Thor x Jesus


Tá explicado porque sempre fui fã de Thor...na competição entre mitologias, Nórdicos vencem...

terça-feira, 21 de abril de 2009

...Hitler astronauta...

Acabei de ler o livro Contato, do Carl Sagan, que fala sobre a possível descoberta de vida inteligente em nossa galáxia. Não sei se todos sabem, mas a humanidade tem emitido ao espaço imagens televisivas desde 1935, ou seja, há 74 anos. Como essas ondas se propagam infinitamente pelo espaço na velocidade da luz, teoricamente civilizações tão ou mais avançadas que nós que estejam situadas a menos de 70 anos-luz (AL) de distância podem estar recebendo nossas transmissões.
- imaginem que o centro da nossa galáxia (existem bilhões delas no universo) está a aproximadamente 27.000 anos-luz de distância do nosso sol.
E estariam assistindo nossas imagens em preto-e-branco das olimpíadas de Berlim (1936), por exemplo, e nos conhecendo através de Hitler. E se nesse momento eles resolverem responder, teremos que esperar 70 anos para receber a mensagem...Existem muitas estrelas dentro dessa distância, sendo que a mais próxima está a 4 AL aproximadamente. Hoje eu li que descobriram mais um planeta parecido com a Terra (já foram descobertos mais de 300...), e este está a 20 AL de distância (hoje eles podem estar recebendo as imagens da queda do muro de Berlim, em 1989). Já sabemos que existem muitos planetas recebendo nossas imagens, só não sabemos ainda se em algum deles existe uma civilização capaz de captar essas transmissões. Agora, imaginem se não é assombroso...o centro da nossa galáxia está a 27 mil AL de distância...Hitler chegará por lá daqui 26.930 anos! Se voltarmos esse tempo no passado, os Neanderthais estavam chegando a América...
...e existem bilhões de galáxias...(a mais próxima da nossa está a 2 milhões de AL, ou seja, o que vemos hoje é sua imagem 2 milhões de anos atrás, quando não havia surgido o Homo sapiens...)...cada uma com bilhões de estrelas...cada estrela podendo ter vários planetas...Se na nossa galáxia houver apenas uma civilização enviando mensagens desde 54.000 anos atrás, essas mensagens estão chegando agora aqui...e temos centenas de radiotelescópios prontos para captá-las...

Tudo isso não é emocionante? Se você ainda acha que não, assista esse pequeno filme abaixo, ou leia Contato...vale a pena, expande nossa visão da vida e nos força a reconhecer como somos privilegiados...

domingo, 5 de abril de 2009

Deus da Razão...Parte II

Novamente fui questionado por colegas do “porque” ser tão crítico com relação às crenças sobrenaturais. E acho que alguns imaginam que essa minha “ira” seja ainda resquício de traumas no passado recente, que se não fosse por essa experiência eu “pegaria mais leve” ou, em outras palavras, que eu estaria “com raiva de deus”...Mas esse deus barbudo que fica sentado numa nuvem anotando os desvios humanos (e que supostamente me causou problemas) certamente não existe, então não teria sentido culpá-lo. O que mais me motiva na verdade é ajudar a diminuir o preconceito contra aqueles que fizeram a opção por não aceitar automaticamente a idéia de que Deus existe. É pretensioso, mas fazer parte de um grupo que pode servir de exemplo para outros “saírem do armário” parece gratificante.
Hoje eu imagino o que passou o primeiro gay quando assumiu sua condição para seus pais e amigos, como eu imagino as primeiras mulheres operárias chegando ao trabalho, ou o primeiro negro a se sentar entre os brancos na universidade. Faz muito pouco tempo que era normal ouvir: “Mulher minha não trabalha, e ponto final!!”, “negros no mesmo ônibus que brancos, que absurdo!”, ou ainda “Meu filho é macho, e isso não se discute nessa casa!!”. E esses absurdos duraram mais tempo do que deveriam, porque a maioria acreditava que realmente não deveria discutir esses assuntos. Talvez esteja longe ainda o dia em que falar “Não acredito num deus sobrenatural” não o transforme imediatamente num ser imoral. Ou no qual as pessoas possam livremente decidir, sem risco de sofrer discriminação, viver livre dos conceitos de pecado, punição, reverência, temor e salvação. Não pode haver motivação maior do que querer que seus filhos (e sobrinhos...rsrs) vivam num mundo realmente globalizado, sem que “grupos” religiosos os rotulem e segreguem. Onde a opção por não crer num ser sobrenatural seja abertamente discutida e respeitada como o que ela é, uma escolha pessoal válida e corajosa, e desvinculada de valores éticos e morais. E mais do que tudo, seria ótimo contribuir para colocar de volta os conceitos de “lógica”, “racionalidade”, “ceticismo”, “ciência”, no lugar onde qualquer ser superior digno gostaria que estivessem...

Na verdade todos somos seres racionais, acreditemos ou não no sobrenatural...E é por isso que a maior parte das pessoas se envergonha quando confrontada e obrigada a analisar suas crenças...Experimente observar a reação de alguém que diz acreditar que Deus nos fez “a sua imagem e semelhança”, se você lhe perguntar: “como assim, deus tem sexo? Ele é homem ou mulher? Se é homem, ele também tem inúteis seios? É peludo? Defeca?”, e quase com certeza essa pessoa irá enrubescer, desqualificar as perguntas como ridículas, e mudar de assunto. Quando experimentamos questionar insistentemente um místico, invariavelmente o deixamos desconfortável, e aqueles mais fanáticos combatem o desconforto brandindo asperamente os velhos chavões inócuos: “esse tipo de coisa não se explica”, “São misteriosos os caminhos do Senhor!”, “ele escreve certo por linhas tortas...” (essa frase é tão absurdamente desprovida de sentido que é difícil entender a razão de ser tão repetida! Que lunático um ser que aprecie ser defendido nesses termos...), “existem coisas que os olhos não podem ver!!” (talvez os vírus e as bactérias, que estranhamente não são citadas por deus no Gênesis, como nunca são citados, em toda a Bíblia, animais desconhecidos dos povos da região...hummm...os marsupiais da Austrália não estavam na arca??). Alguém consegue imaginar um ser inconcebivelmente extraordinário que prefira seguir um caminho misterioso?? Que prefira manter suas criaturas na escuridão da ignorância? Pra impressionar a quem?!

Mas a grande maioria da população não é de fanáticos (graças ao bom deus!!), mas sim de pessoas que se acostumaram com um conceito embutido nelas desde muito pequenas (aqui me lembrei da recente entrevista do Bispo de Olinda, o que excomungou a turma do aborto, para a revista Veja, onde ele diz algo do tipo “que bom o tempo onde as crianças aprendiam a rezar antes até de aprender a falar...”, ou algo parecido, e isso me estarreceu...) e que na verdade preferem desligar seu “ferramental cético” quando o assunto é Crença em Deus, já que são criadas acreditando nesse maravilhoso ser que pode nos tirar de qualquer enrosco, que ouve nossos problemas e nos sussurra soluções, nos acalma, nos conforta...e nos permite a delícia infantilóide de saber que iremos reencontrar as pessoas que amamos. "Então porque você quer que analisemos racionalmente, se isso nos trás tanto conforto?!". Nas palavras de Edmund Way Teale "moralmente é tão condenável não querer saber se alguma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão...".

(ele é um pai amoroso, mas se não acreditarmos nele iremos arder no inferno para todo o sempre!! – aqui no Pará estou em período de aclimatação...).

Experimente comparar a mitologia judaico/cristã com todas as demais já existentes, e novamente os fiéis ficam sem palavras, pois são tantas as coincidências que só um deus muito sem imaginação criaria sua igreja nessas bases.
Esse parágrafo de Christopher Hitchens sintetiza o que é necessário dizer sobre Mitologia, referindo-se ao nascimento imaculado de Jesus: “Sim, e o semi-deus grego Perseu nasceu quando o deus Júpiter visitou a virgem Danae na forma de um banho de ouro e a engravidou. O deus Buda nasceu através de uma abertura no lado do corpo de sua mãe. Coatlicue, a serpente, pegou uma pequena bola de plumas do céu e a escondeu em seu seio, e assim o deus asteca Huitzilopochtli foi concebido. A virgem Nana pegou uma romã da árvore banhada pelo sangue do assassinado Agdistis, colocou-a em seu seio e deu à luz ao deus Attis. A filha virgem de um rei mongol acordou certa noite e se viu banhada por uma luz grandiosa, que fez com que ela desse à luz Gêngis Khan. Krishna nasceu da virgem Devaka. Hórus nasceu da virgem Ísis. Mercúrio nasceu da virgem Mais. Rômulo nasceu da virgem Rhea Silvia.” Como já disse, mitologia é a religião dos outros...

No fundo, tenho certeza absoluta, a esmagadora maioria de crentes são aqueles que “acreditam na crença”, foram ensinados a acreditar, acham importante acreditar, e acreditam que não tem alternativa, mesmo porque, o mundo seria terrível se não fossem as religiões. Muitos chegam a falar abertamente: “O povo precisa dela!”. Ou seja, “eles”, os ignorantes, os fracos, os de “baixo QI”, não teriam onde se agarrar para buscar consolo, formariam hordas imorais... “Lógico que NÓS não precisamos, mas ELES, se não acreditarem no inferno...”. Acho esse argumento bastante infeliz e elitista. Sim, existe alternativa. Nós podemos acreditar na razão, nos assombrar com os mistérios extraordinários da natureza, aceitar que somos afortunados por viver (poucos anos) num planetinha insignificante na periferia de uma galáxia insignificante, livres dessa subordinação ridícula a dogmas medievais, tendo a certeza de que deus, caso exista, não está ansiosamente aguardando o momento de nos enviar para a tortura eterna.

Galileu Galilei: "Não consigo acreditar que o mesmo deus que nos deu inteligência, razão e bom senso nos proíba de usá-los."

quarta-feira, 25 de março de 2009

...livrái-nos dos maus gens...

Dêem uma olhada na fotografia acima, que coisa assombrosa...o excesso de umidade na parede de um tribunal de uma pequena cidade do Tennessee (EUA) formou o que parece ser a imagem de um homem barbudo. Mas por coincidência, foi nesse tribunal que ocorreu, em 1926, um dos julgamentos mais famosos de todos os tempos (“Julgamento do Macaco”), quando um professor (John Scopes) foi julgado e condenado pelo crime de ensinar evolução nas escolas, o que era proibido por lei estadual até 1967 (!).
Então, sendo assim, não pode ser outra coisa: é ele, a mancha é Charles Darwin! Pode parecer brincadeira, mas originou-se um culto ao local, com peregrinos afirmando que a imagem os preenche com um enorme sentimento de lógica...isso mesmo, de lógica...
Um zoólogo que ficou 16 horas na fila disse: “Que seu nome seja adorado e suas teorias ecoem por todo o universo natural para sempre!”.
Uma mãe ficou horas na fila com seu filho de colo, e declarou que estava ali para pedir que seu filho só tivesse bons gens...(já devem ter criado uma oração, imaginem “afastai as mutações, dai-nos a melhor adaptação...”).
Mas o mais engraçado de tudo é a declaração do Reverendo Clement McCoy, professor universitário e criacionista, opositor da Evolução: “Trata-se de uma mancha na parede, nada mais. Qualquer outra coisa é fantasia delirante de fanáticos evolucionistas, que só vêem o que desejam ver na esperança de validarem uma teoria ilógica e sem fundamento. Só espero que estes hereges percebam seu erro antes que nosso Deus Todo Poderoso os esmague em sua vingança!" (Só faltou concluir: "Juro por Nossa Senhora de Fátima e pelo Santo Sudário, nunca vi gente tão irracional!!").
É difícil de acreditar, mas nada do que está escrito acima é ficção satírica...é tudo verdade...e prova a necessidade que o ser humano tem de acreditar em ilusões, em ver aquilo que deseja ver...

domingo, 22 de março de 2009

Alternativa racional...

“Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão as idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e a nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.” Marilena Chaui

Quando li essa definição fiquei refletindo sobre nosso preconceito em relação à Filosofia, já que ninguém pode discordar de sua utilidade, mas poucos (como eu) conseguem abandonar a idéia de que trata-se de algo chato, "abstrato", sem aplicação prática, e de difícil compreensão. Culpa dos professores, que normalmente tratam a matéria de forma desestimulante ("viajam") e afastam as pessoas. Mas estou convencido de que, quanto mais filosofia e ciência, menos superstição e "temor reverente" serão utilizados como muletas...

Deus da Razão...Parte I

Conselho de Thomas Jefferson ao seu sobrinho: “Joga fora todos os medos de preconceitos servis, sob os quais as mentes dos fracos se curvam. Coloca a razão firmemente no trono dela, e apela ao tribunal dela para todos os fatos, todas as opiniões. Questiona com coragem até a existência de Deus; porque, se houver um, ele deve aprovar mais o respeito à razão que o medo cego.”



Como havia imaginado, meu post sobre a pretensa “sacralidade” da Bíblia causou certo mal estar entre alguns amigos e conhecidos (e é curioso como as reações são sempre focadas nas supostas “ofensas” feitas por mim, e que ninguém sequer tenha tentado responder as perguntas ali colocadas). E vou voltar ao tema Religião também porque esse assunto sempre surge, e pra minha infelicidade eu não consigo simplesmente dizer “sou católico não-praticante”. Então resolvi escrever algo definitivo sobre o que eu penso a esse respeito, e quando alguém quiser se aprofundar, darei o endereço do blog...

Primeiro de tudo eu acho importante deixar bem claro: não existe razão objetiva alguma para tratar esse assunto com mais “respeito” do que qualquer outro assunto. Não existem noções “sagradas”, ou incriticáveis. Se eu posso discutir abertamente minhas opiniões sobre política, futebol, sexo, arte, etc, seria absurdo imaginar que minha opinião sobre a origem do Universo e seus mitos de criação seja algo “de foro íntimo”. Devo manter reserva, pois as pessoas “se ofendem”. Eu respeito todas as opiniões, mas rejeito completamente a noção de que esse assunto não deve ser debatido, como outro qualquer. Quem pensa diferente, e se “magoa” facilmente nesse tipo de debate, por favor não leia daqui pra frente, contente-se em saber que sou um cristão não-praticante, e poderemos discutir futebol...

Eu acredito que a questão que mais separa os “descrentes” dos crentes não é bem a possibilidade da existência de um ser sobrenatural que tudo criou, mas o “tipo” de ser que ele seria. Para alguns (como eu), mais importante que saber se ele existe ou não, é a busca pela explicação verdadeira. Eu entendo que qualquer ser digno de ser considerado “superior” obrigatoriamente valoriza o uso da razão. Imaginar um ser que cria todo esse complexo universo, e que observa esse maravilhoso processo de desenvolvimento que levou ao surgimento de seres vivos capazes de QUESTIONAR sua magnífica obra, e por questionarem tanto desenvolvem ferramentas e métodos capazes de investigar, ou seja, esforço e dedicação da criatura buscando entender a mente do criador, e acreditar que esse ser não sinta orgulho disso...pelo contrário, imaginar que esse ser valoriza a crença cega, valoriza o cordeiro que segue mansamente as ordens de seu pastor...que simplesmente ACREDITA, mesmo em coisas absolutamente contraditórias...Convenhamos, é necessária uma dose cavalar de irracionalidade para que levemos a sério uma doutrina (eu sempre cito a cristã, a qual conheço razoavelmente bem, mas o argumento serve pra muitas outras) na qual deus envia seu filho (que é ele mesmo), através de uma virgem (apesar da profecia da linhagem "Daviniana" de José...), para ser torturado por judeus (que Ele sabia seriam perseguidos por séculos por esse crime, que se não tivesse ocorrido arruinaria seu plano...), é morto na cruz para perdoar pecados ancestrais (de Adão e Eva, que certamente não existiram) e pecados que ainda iremos cometer (!!). Ele ressuscita (óbvio, ele era Deus), sua mãe não morre (seu corpo sobe aos céus...), eles “escutam” tudo o que nós pensamos (mas mesmo assim temos que confessar para os padres...), fazem milagres (supressão temporária das leis da natureza criadas por eles mesmos, a favor de uns poucos privilegiados) e devemos semanalmente beber seu sangue e comer seu corpo caso um pastor (que deve possuir testículos!) abençoe pão e vinho...Típico de um ser doente e extremamente imaginativo...Tudo isso pra perdoar nossos pecados? Eu aceitaria o perdão por muito menos...E se essa mitologia destrambelhada já não fosse suficiente, temos ainda o mistério da Trindade. Eu me assombro toda vez que leio esse trecho do livro do Dawkins...a Enciclopédia Católica deixa claro: “Na unidade da Divindade há três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo que essas três pessoas são distintas umas das outras. Assim, nas palavras do Credo de Atanásio, o pai é Deus, o filho é Deus, o Espírito Santo é Deus, contudo não há três Deuses, mas um só Deus. Não há portanto nada que tenha sido criado, nada que tenha sido sujeitado a outro na Trindade: nem há nada que tenha sido acrescentado como se uma vez não tivesse existido, mas entrado depois: portanto o Pai jamais esteve sem o Filho, nem o Filho sem o Espírito Santo, e essa mesma Trindade é imutável e inalterável para sempre.” Nada como um argumento esclarecedor...alguém aí precisa de mais alguma coisa antes de sair por aí adorando esse "Monoteísmo de três deuses"? Essa enciclopédia deve ser o supra-sumo da lucidez e clareza...
Dá para ser católico (ou evangélico, judeu, islamita...) e racional ao mesmo tempo? Eu acredito que não...
Santo Agostinho disse: “Existe outra forma de tentação, ainda mais cheia de perigo. É a doença da curiosidade. É ela que nos leva a tentar descobrir os segredos da natureza, segredos que estão além da nossa compreensão, que nada nos podem dar e que nenhum homem deveria querer descobrir”. Martinho Lutero foi mais enfático: “A razão é o maior inimigo que a fé possui; ela nunca aparece para contribuir com as coisas espirituais, mas com freqüência entra em confronto com a palavra divina, tratando com desdém tudo o que emana de Deus. Quem quiser ser cristão deve arrancar os olhos da razão.”

Não, eu tenho certeza, Deus, caso exista, se orgulha dos céticos, daqueles que usam a razão e por isso exigem evidências para acreditar seja no que for. Nas palavras de Richard Dawkins: “Mas porque estamos tão dispostos a aceitar a idéia de que o que é imprescindível fazer, se se quiser agradar a Deus, é acreditar nele? O que há de tão especial em acreditar? Não é igualmente provável que Deus recompense a bondade, a generosidade, a humildade? Ou a sinceridade? E se Deus for um cientista que considera a busca honesta pela verdade a virtude suprema? Aliás, o projetista do Universo não teria que ser um cientista? Você apostaria que Deus valorizaria mais uma crença fingida e desonesta (ou mesmo uma crença honesta) que o ceticismo honesto?”.
Não posso aceitar um deus que goste de ser adorado, que aprecie ver suas criaturas de joelhos, que valorize o temor e a reverência...muito menos um deus que cria uma doutrina que separa suas criaturas em grupos e estimula a segregação, destinando “futuros” bem diferentes a cada grupo. Me recuso a aceitar a superioridade de um ser que publica uma obra machista, preconceituosa, homofóbica, racista, que sob qualquer possível prisma estimula a acomodação, a aceitação, a cordeirice abestalhada. É inimaginável para mim que algo tão extraordinário como um deus se orgulhe de criaturas que abdicam da sua capacidade de raciocínio lógico, criaturas que ao lerem um post como esse se mostram absolutamente incapazes de respostas baseadas na razão, na argumentação racional...Impossível aceitar que ele, ao deparar com o não-argumento “São os mistérios da fé!”, pense: “que orgulho dessas minhas criaturas, encontram coisas inexplicáveis e se contentam com o mistério...que tolos aqueles que insistem em buscar respostas...em utilizar o cérebro com o qual eu os dotei...querem entender o universo em que vivem...mas já não está claro? Eu criei tudo em 6 dias, resolvi ficar um tempo observando e em breve vou recolher o que presta e eliminar o resto...”.
Não, me parece óbvio que ele, caso exista, é cientista e curioso, e vai me receber de braços abertos...

Marcelo Gleiser, do livro Poeira das Estrelas:
“A cosmologia moderna nos oferece uma nova perspectiva, um novo modo de pensar quem somos: somos a espécie que faz perguntas. É perguntando que criamos conhecimento, que mergulhamos com coragem no desconhecido, no mistério da criação. Somos todos irmãos, resultados de processos físicos e químicos que se estendem por bilhões de anos ao passado. Nossa inteligência, que nos permite saber tanto, é uma preciosidade a ser venerada, iluminando com sua luz incessante, a luz da dúvida, do querer crescer, a vastidão das distâncias cósmicas, frias, desertas. Se as estrelas geram a luz que torna a vida possível, somos nós que geramos a luz do saber.”

sábado, 14 de março de 2009

...variedade infinita...

Esse peixe, descoberto na Califórnia em 1939 (mas só agora observado em seu habitat, já que antes era visto apenas quando capturado em redes de pesca), tem o topo da cabeça transparente e olhos tubulares internos (são as bolas verdes...os pontos acima da boca são narinas), que podem se virar tanto pra cima quanto para a frente. Ele "desenvolveu" esse sistema por viver entre sifonóforos, criaturas submarinas que possuem tentáculos aferroados, e assim seus olhos estão sempre protegidos. Achei assombroso...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Aos olhos de Deus....

Saiu no jornal francês Le Monde:

"É uma garotinha do Brasil. Para protegê-la, a justiça proíbe que se divulgue sua identidade. Vamos chamá-la de V. "V" de vítima. "V" de violentada. Ela tem 9 anos, mas mal parece ter essa idade: 33 kg para 1,36 m. É o que mostra a única foto que se tem dela, com o rosto censurado, pequena e franzina, segurando a mão de sua mãe. É uma criança do Nordeste. Ela vive em Alagoinha, perto de Recife, a capital do Estado do Pernambuco.No final de fevereiro, V. começou a se queixar de dores no ventre, de tonturas e de enjoos. Sua mãe a levou a um médico. Seu diagnóstico foi assustador: a menina estava grávida de 15 semanas, esperando gêmeos. Um fato raríssimo.O padrasto de V, de 23 anos, trabalhador agrícola, confessou seu crime à polícia. Ele abusava havia três anos da menina e de sua irmã mais velha, de 14 anos com deficiência. Ele pode ser condenado a 15 anos de prisão. V. contou seu drama.O homem se aproveitava da ausência de sua companheira para estuprar a garota. Ele a ameaçava: "Se você contar, mato sua mãe". De vez em quando ele lhe dava uma moeda de um real.No Brasil, a interrupção voluntária de gravidez (IVG) continua sendo proibida, exceto em caso de estupro ou de risco para a vida da mãe. Essa dupla exceção se aplica a V. No hospital público de Recife, o dr. Sérgio Cabral recomendou que fosse feito um aborto imediato. A interrupção foi bem-sucedida."A criança estava anêmica, certamente desnutrida", explica o médico. "Seus órgãos mal estavam formados. Era preciso agir rapidamente. Esperar demais a faria correr um risco de morte".Esperar? É justamente o que queria o pai biológico de V., separado de sua mulher havia três anos. Ao saber da situação de sua filha alguns dias antes do aborto, ele procurou a justiça. Avisado sobre o caso, entrou em cena um personagem importante: Dom José Cardoso Sobrinho, conhecido como "Dom Dedé", arcebispo de Olinda e de Recife. O monsenhor foi pessoalmente ao tribunal para se certificar, junto de seu presidente, que a intervenção não seria autorizada. Armado do direito canônico e brandindo o mandamento da Igreja ("Não matarás"), ele dispara: "O Brasil tem leis sobre o divórcio ou o aborto que vão contra a lei de Deus. Esta é superior à lei dos homens".Uma vez interrompida a gravidez, o prelado excomungou a mãe de V. e toda a equipe médica. As vítimas desse castigo coletivo não poderão mais receber os sacramentos da Igreja. Só a menina e seu estuprador escapam da fúria de Dom Dedé. Ela, por ser menor de idade; ele, porque a jurisprudência católica não previu nada para puni-lo. "Ele cometeu um pecado muito grave", admite o arcebispo. "Mas, aos olhos de Deus, o aborto é um crime ainda mais grave".Uma causa sagradaAs feministas se mobilizaram. Uma ONG católica, favorável ao "direito de escolha", condenou a atitude "intolerante" e "cruel" do arcebispo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se manifestando como "cristão", lamentou que "um arcebispo tenha um comportamento tão conservador". Segundo ele, "o corpo médico agiu mais corretamente do que a Igreja". Dom Dedé lhe aconselhou, em resposta, que "consultasse um teólogo".Para a Igreja do Brasil, o maior país católico do mundo, a rejeição ao aborto é uma causa sagrada. Ela conduz uma cruzada contra a descriminalização da IVG, desejada pelo ministério da Saúde. Dom Dedé está na linha de frente. Conservador, e orgulhoso de sê-lo, sucedeu em 1985, em Olinda e no Recife, Dom Hélder Câmara, figura de proa da Teologia da Libertação, morto em 1999, e ao qual ele é contrário. Desde então ele não parou de liquidar a herança eclesiástica de seu antecessor, julgado em Roma como perigosamente progressista, um "pequeno bispo vermelho". Fazendo uma comparação com o genocídio hitlerista, ele gosta de classificar o aborto como um "holocausto silencioso", diante do qual "não podemos ficar de braços cruzados". Mais uma vez o Vaticano o apoia, ressaltando que os dois fetos "inocentes tinham o direito de viver".Mais de 1 milhão de abortos clandestinos são realizados todos os anos no Brasil."

Está cada vez mais fácil criticar a Igreja Católica, assim vai perder a graça...só aos olhos desse deus irracional estuprar uma criança de 6 anos é menos grave que abortar para preservar a vida...

terça-feira, 10 de março de 2009

Assombroso e incompreendido....Parte VII (e última!!)

Alguns críticos da evolução, na busca desesperada por argumentos favoráveis à teoria do “design inteligente” (termo que procura esconder covardemente a defesa do criacionismo, e dar roupagem científica ao misticismo puro. Algumas escolas já ensinam isso nas aulas de ciências...Eu particularmente respeito mais aqueles que defendem abertamente suas idéias místicas...), e também por não procurarem entender os mecanismos da evolução, levantam corriqueiramente questões “controversas” sobre a Teoria. Alguns desses argumentos nós já comentamos, como dizer tratar-se apenas de uma “teoria” (suposição), ou então dizer que não existem fósseis que preenchem as lacunas dos registros entre as espécies (Michael Shermer, citado por Dawkins, disse certa vez que quando surge um fóssil para ocupar o meio de uma lacuna, os criacionistas declaram que agora há o dobro de lacunas! rsrs – e na verdade “eles” deveriam apresentar um fóssil (apenas um seria suficiente!) que contrariasse a evolução...).
Mas os críticos gostam mesmo é de associar esse mecanismo simples e eficaz com o “acaso”. Quem nunca ouviu alguém dizer: “Como acreditar numa teoria que afirma a vida ter surgido por acaso?”. Dois equívocos na mesma frase, já que a evolução não trata do surgimento da vida, mas sim de como, após “surgida”, produziu toda a diversidade existente. “Como algo complexo, como o olho humano, pode ter surgido por obra da sorte??”, completam. Realmente, impossível acreditar que qualquer órgão complexo tenha sido obra da sorte. Nenhum cientista acredita nisso. A seleção natural explica como eles surgiram. E, melhor ainda, explica os absurdos “erros” e “defeitos” encontrados aos montes na natureza, e não foram por obra do “azar” (pra não falar num “designer estúpido”).
Essa associação com o acaso se origina no fato de que a matéria-prima utilizada pela seleção natural vem prioritariamente das mutações, que realmente ocorrem de forma totalmente aleatória (e a participação do acaso termina aqui). E também porque a maioria dos leigos imagina que um olho, por exemplo, seja um órgão de “complexidade irredutível”, ou seja, só possa existir completo, na sua forma atual, e que surgiu num grande salto evolutivo, quando repentinamente um organismo “desolhado” gerou filhos com olhos completos e funcionais.
A verdade é o oposto disso. O poder da seleção natural está justamente nas alterações cumulativas, passo a passo. A teoria nunca postulou o surgimento de nada de forma repentina. As chances de uma macromutação produzir algo “vantajoso” para o organismo são ridiculamente pequenas, até hoje nunca observada.

(isso é fácil de entender, até de forma intuitiva. Se já temos um mecanismo bem ajustado (e na natureza, se está vivo e se reproduzindo, é bem ajustado) qual seria a chance de uma grande reviravolta torná-lo melhor? É óbvio que são praticamente nulas...as grandes mutações produzem aberrações, que por sorte não deixam descendentes e desaparecem...veja o pato de três pernas aí ao lado...)

Mas podemos facilmente entender que um “proto-olho” rudimentar, que apenas perceba tons e sombras, como o dos platelmintos, é muito melhor que a cegueira. Uma “aba” entre seu braço e abdômen pode te ajudar a planar entre as árvores (como encontrado em muitos animais atuais, como rãs, esquilos (foto abaixo) e até serpentes) e escapar de predadores, ou evitar um tombo fatal, apesar de ainda não ser uma asa. Podemos imaginar qualquer 10% de característica como melhor que nada.
Citando Dawkins, “os criacionistas tem razão em dizer que, se a complexidade irredutível puder ser adequadamente demonstrada, isso arruinará a teoria de Darwin. O próprio Darwin disse: “Se fosse demonstrado que qualquer órgão complexo não pudesse ter sido formado por numerosas, sucessivas e pequenas modificações, minha teoria absolutamente ruiria. Mas não consigo encontrar nenhum caso assim.” Darwin não conseguiu encontrar nenhum caso assim, nem ninguém desde os tempos de Darwin, apesar dos esforços extenuantes, desesperados mesmo. Muitos candidatos a esse santo graal do criacionismo já foram sugeridos. Nenhum resistiu a análise.”
Portanto, a diversidade de espécies e órgãos não surge por acaso, mas é fruto de pequenas alterações que vão se acumulando, e só se acumulam em função da sobrevivência não-aleatória (só os mais adaptados passam na “peneira” da seleção natural, e isso é o oposto de sorte...).
Para finalizar essa série, é importante frisar um ponto que pode passar despercebido por alguns: se você acredita que nada complexo pode surgir sem um projetista, a explicação para a existência da vida seria um ser sobrenatural? Mas um ser que cria do nada todo o universo, não seria ele mesmo muito complexo? Ele pôde surgir por "acaso"? Você tem um argumento que só muda a pergunta de lugar e quer ensinar isso em aulas de ciências??

domingo, 8 de março de 2009

Homenagem às mulheres...

Como hoje é o dia delas, resolvi postar esse maravilhoso filme, feito pelo cineasta Theo Van Gogh, que por causa dele foi degolado por um muçulmano em Amsterdã. Theo contou com a colaboração de Ayaan Hirsi Ali, a somali que teve seu clitóris extirpado e escreveu o livro "Infiel" (O assassino do cineasta deixou uma carta para ela, que seria sua próxima vítima). E para aqueles que após assistirem ao vídeo dirão "Absurda a forma como o Islã trata as mulheres!", seguem abaixo algumas frases interessantíssimas...
Parabéns a todas as mulheres, mas em especial àquelas que se libertaram das amarras machistas da religião...



Santo Agostinho:

"Mulheres não deveriam ser educadas ou ensinadas de nenhum modo. Deveriam, na verdade, ser segregadas já que são causa de horrendas e involuntárias ereções em santos homens."

"É Eva, a tentadora, que devemos ver em toda mulher. Não consigo ver que utilidade a mulher tem para o homem, tirando a função de ter filhos."

São Jerônimo:

"Se é bom não tocar uma mulher, então é ruim tocar uma mulher sempre e em todos os casos.
A mulher é uma ferramenta de Satã e um caminho para o Inferno."

São Odo de Cluny:

"Abraçar uma mulher é como abraçar um saco de esterco."

Tomás de Aquino:

"A mulher está em sujeição por causa das leis da natureza, mas é uma escrava somente pelas leis da circunstância… A mulher está submetida ao homem pela fraqueza de seu espírito e de seu corpo… é um ser incompleto, um tipo de homem imperfeito […] A mulher é defeituosa e bastarda, pois o princípio ativo da semente masculina tende à produção de homens gerados à sua perfeita semelhança. A geração de uma mulher resulta de defeitos no princípio ativo".

1 Coríntios 14:34-35:

"As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E se querem ser instruídas sobre algum ponto, interroguem em casa os seus maridos, porque é vergonhoso para uma mulher o falar na igreja."

Efésios 5:22-24:

"As mulheres sejam submissas a seus maridos como ao Senhor, porque o marido é cabeça da mulher como Cristo é cabeça da Igreja, seu corpo, do qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim o estejam também as mulheres a seus maridos em tudo."

1 Timóteo 2:9-1:

"A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação."

Talmud, Shabbath 152 (livro dos judeus):

"A mulher é um vaso cheio de imundícies com sua boca cheia de sangue e entretanto todos a desejam."

quinta-feira, 5 de março de 2009

Coerência...

Uma menina de 9 anos é estuprada pelo padrasto, fica grávida de gêmeos e de acordo com os médicos, corre risco de morte...os pais pedem autorização para o aborto. O arcebispo da cidade tenta impedir através de advogados, alegando que se está indo contra as leis de deus (nova especialização - Direito Divino). O aborto é realizado e o arcebismo excomunga pais e médicos envolvidos...isso aconteceu em Recife (PE), por esses dias...(para a notícia completa, clique aqui) .
Num primeiro momento, a maioria de nós (isso engloba todos os não-fanáticos religiosos) considera a atitude do arcebisbo drástica e intolerante, francamente descabida e absurda. Mas se analisarmos com calma, não é o caso. Ele representa a autoridade máxima de sua organização, em sua região. E a sua organização tem como um de seus princípios fundamentais, como um estatuto para aceitar sócios, que o aborto é crime punível com a expulsão da mesma. Quem decide fazer parte dessa organização, deve seguir suas regras. É o tipo de decisão coerente que não deveria gerar qualquer polêmica. Só não pode ser expulso quem não quer fazer parte do clube, como eu. Esse clube é para poucos, e não admite racionalidade. Mas pode ser coerente, como nesse caso...

terça-feira, 3 de março de 2009

...Hussein dá o recado...

Todos aqueles que, como eu, se preocupam com a crescente influência das religiões sobre assuntos que não lhes diz respeito, como política e ciências, por exemplo, irão sentir grande júbilo ao assistir a esse vídeo...em poucas palavras o homem mais poderoso do planeta dá seu recado: cada primata no seu galho...

Assombroso e incompreendido...Parte VI

Tudo bem, as pessoas ainda podem não estar convencidas, apesar de milhares de fósseis animais e vegetais apontando na mesma direção. Mas não é só de fósseis que vive a genialidade de Darwin...podemos comparar anatomicamente as espécies e verificar se os primos mais próximos são mais parecidos entre si do que os mais distantes...
Olhem as figuras dos fetos ao lado e dos ossos aí abaixo...O fato do início do desenvolvimento embrionário de seres tão diferentes como cães, tartarugas, etc, ser tão similar, não indica a existência de antepassados comuns? E nossos ossos comparados com os de gatos, baleias e morcegos? Qual poderia ser a outra explicação? Falta de imaginação (ou preguiça) de um Designer Inteligente?
Isso sem falar em estruturas vestigiais (sobras atualmente inúteis de estruturas antigas...), como o cóccix (início da cauda de primatas) e o dente do siso nos humanos...

(alguns peixes de cavernas profundas ainda possuem olhos, totalmente cegos...me pergunto porque um “projetista inteligente” daria olhos a criaturas que vivem na escuridão...vai ver que cometeram algum pecado – fornicaram com a peixa do próximo - e foram condenados a viver nas profundezas).

Se lembrarmos que ninguém à época de Darwin tinha a menor idéia de como as características eram transmitidas, podemos imaginar a expectativa gerada pelo entendimento desse mecanismo em toda a comunidade científica (e religiosa...). Estava ali algo com enorme potencial para destruir a teoria, ou então comprová-la definitivamente. Como já falado, o DNA dos pais é transmitido aos descendentes através das células sexuais (no caso de organismos de reprodução sexuada). E essa molécula é formada por sequencias ordenadas de nucleotídeos (ver esquema abaixo), que por sua vez definem a construção de proteínas. Quando ocorrem erros de cópia (mutações), essa sequencia se altera, levando a alterações nas proteínas (podem deixar de “ligar” uma proteína, por exemplo). Todas as alterações favoráveis, bem como as neutras (sem efeito algum), são encontradas nas futuras gerações. Dessa forma, o DNA de um organismo atual contém o registro de todas as alterações ocorridas no passado, inclusive as alterações responsáveis pelas adaptações. Se compararmos as sequencias de nucleotídeos dos DNA´s de duas espécies, podemos mapear todas as alterações ocorridas desde quando essas espécies possuíam um ancestral comum. DNA´s com poucas diferenças devem possuir um ancestral mais recente que DNA´s com grandes diferenças. Quando comparamos o DNA humano com o DNA de chipanzés, ratos, galinhas, peixes, insetos, vermes, plantas e bactérias, descobrimos um aumento na variação das sequencias de nucleotídeos, nessa ordem (somos mais parecidos com macacos que com orquídeas (que surpresa!)). Mas existem trechos de DNA semelhantes mesmo entre humanos e bactérias (são essas semelhanças que permitem hoje estudos em organismos muito diferentes de nós, como moscas, por exemplo, antes de se partir para testes em humanos, já que ambos possuem proteínas que realizam tarefas idênticas...). É através da comparação do DNA humano com o de outros mamíferos que hoje sabemos que o ancestral comum entre o homem e o chimpanzé viveu entre 6 e 7 milhões de anos atrás onde hoje é a África. Para nosso azar, várias espécies descendentes desse ancestral comum foram extintas, e por isso não temos em nossos zoológicos os indivíduos intermediários entre nós e os macacos atuais (vários macacos bípedes existiram, como os Australopithecus, que surgiram por volta de 4 milhões de anos atrás). É por essas e outras que o desenvolvimento da Engenharia Genética sepultou as expectativas dos adversários de Darwin.
Pra finalizar essa série básica sobre a Evolução, só falta falar um pouco sobre as maiores falácias, os pontos que geram maiores "falsas interpretações"...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Seja bem-vinda, meu amor....


...ao nosso assombroso e pálido ponto azul...carpe diem...não passe em branco....e siga os 10 mandamentos abaixo....bjs...já te amo...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Assombroso e incompreendido...Parte V

As principais evidências que apóiam a Teoria da Evolução são de três tipos: registros fósseis, anatomia comparada e bioquímica.
Pra entender a questão dos fósseis, é importante saber primeiro que a crosta terrestre é em boa parte formada por camadas de rochas sedimentares que se sobrepõem ao longo das eras, ou seja, camadas de solo mais antigo vão ficando por baixo, em maior profundidade. Podemos então datar essas camadas, através da meia-vida de elementos radioativos (alguns fanáticos religiosos chegam a colocar esse método em dúvida quando surgem evidências à favor da evolução...mas repentinamente se esquecem disso quando surgem cálices e mantos datados em 2000 anos...). Com isso sabemos a “idade” de cada camada de sedimentos. O que são fósseis, então? Quando animais (ou plantas) morrem repentinamente e são recobertos por sedimentos, como em desmoronamentos, etc, num ambiente de pouca oxigenação (fundo do mar, pântanos, etc), seus restos podem ser substituídos pelos minerais do solo e serem “fixados” por eras. É um evento raro, sem dúvida, mas que vem ocorrendo a

bilhões de anos...então lá atrás, quando falei que seria fácil desacreditar toda a teoria de Darwin, bastava que em todos esses anos em que os homens desenterram restos animais se tivesse encontrado um único fóssil de mamífero atual numa camada anterior ao surgimento dos mamíferos (“fóssil de coelho no pré-cambriano”). Ou qualquer fóssil que não se enquadrasse nas características dos demais animais do mesmo período...mas até hoje todos os fósseis encontrados estavam nos seus “devidos lugares”...ou seja, "esqueletos" de animais parecidos com os atuais estão sempre em camadas mais recentes de rochas, enquanto fósseis com características bem diferentes das atuais sempre aparecem em rochas mais antigas...se um dia acharem restos humanos no estômago de um dinossauro, por exemplo, jogaremos fora o evolucionismo (mas nem por isso adotaremos explicações sobrenaturais...). Lembra que uma teoria pra ser válida deve permitir predições? Pois é...então se eu tenho os primeiros registros de animais terrestres, por exemplo a 300 milhões de anos, e muitos fósseis de peixes com 400, 500 milhões de anos e quero comprovar que os animais terrestres vieram da água, eu deveria escavar camadas de rochas com idades entre 300 e 500 milhões de anos para achar os animais intermediários entre os aquáticos e os terrestres. A teoria diz que eles devem estar lá...pois é, em 2004 encontraram o bonitão aí da figura, no Canadá, em rochas com 375 milhões de anos...ele possui características de peixe e de tetrápode (quatro patas)...foi denominado Tiktaalik, e era um predador de águas rasas. As extremidades de suas nadadeiras possuem ossos articulados, como um “pulso”, que o ajudava a se apoiar e se arrastar no solo. Seus olhos já eram no topo da cabeça, como nos jacarés, e suas costelas eram mais rígidas que as de peixes, permitindo suportar a pressão da gravidade quando fora da água. E também diferente dos peixes, ele possuía ossos móveis no pescoço...ou seja, foi o primeiro “peixápode” descoberto, no local e época previstos pela Teoria da Evolução. Esse é apenas um exemplo famoso de fóssil transicional, como são chamados os animais ou plantas com características intermediárias entre gêneros ou espécies. Já foram encontrados alguns fósseis com características de dinossauros e aves, por exemplo (Hoje sabe-se que as aves são dinossauros com asas...).

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um Moisés "bright"...


Caso fossem esses os 10 mandamentos da Bíblia, talvez até eu poderia ser cristão...atribuem na internet ao Dawkins, mas eu acredito que não seja dele...em todo caso, são muito bons:

1- Não faça aos outros o que não quer que façam com você.
2- Em todas as coisas, faça de tudo para não provocar o mal.
3- Trate os outros seres humanos, as outras criaturas e o mundo em geral com amor, honestidade, fidelidade e respeito.
4- Não ignore o mal nem evite administrar a justiça, mas sempre esteja disposto a perdoar erros que tenham sido reconhecidos por livre e espontânea vontade e lamentados com honestidade.
5- Viva a vida com um sentimento de alegria e deslumbramento.
6- Sempre tente aprender algo de novo.
7- Ponha todas as coisas à prova; sempre compare suas idéias com os fatos, e esteja disposto a descartar mesmo a crença mais cara se ela não se adequar a eles.
8- Jamais se autocensure ou fuja da dissidência; sempre respeite o direito dos outros discordar de você.
9- Crie opiniões independentes com base em seu próprio raciocínio e em sua experiência; não se permita ser dirigido pelos outros.
10- Questione tudo.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Assombroso e incompreendido...Parte IV

Assim as espécies sofrem alterações ao longo do tempo...mas se elas só sofressem alterações e seguissem mudando, o número de espécies não aumentaria...então como surgem novas espécies (Especiação é o termo científico...)? Aí o papel principal cabe ao isolamento reprodutivo. Sabemos que ao longo das eras, em função do deslocamento da crosta terrestre, surgem cordilheiras, rios, mares, ilhas, etc...Isso faz com que populações se separem (ficam partes na ilha e partes no continente, por exemplo) e deixem de cruzar e misturar seus gens...e aí as alterações sofridas por uma delas não “afeta” a outra. Elas começam a se desenvolver independentemente. E pode ser que quando reunidas novamente as diferenças já sejam tão grandes que a “corte” (sinais de acasalamento) não seja mais percebida, ou então, caso cheguem a cruzar, não geram mais indivíduos férteis. Já são duas espécies diferentes...Mas a especiação pode ocorrer mesmo que não haja isolamento geográfico. Podem ocorrer alterações comportamentais (algumas fêmeas deixam de reconhecer a “corte” dos machos, por exemplo), alterações no período fértil, alteração nos órgãos reprodutores (problemas de “encaixe”). Quando passou pelas Ilhas Galápagos, Darwin pode observar nas espécies de pássaros e tartarugas pequenas diferenciações de ilha para ilha. Dependendo do tipo de fruto presente, o formato dos bicos dos pássaros variavam, por exemplo. É esse isolamento geográfico que explica porque temos kiwi só na Nova Zelândia, canguru só na Austrália e cupuaçu só no Pará...
Então o ambiente faz grande pressão no desenvolvimento das espécies, e é justamente porque o ambiente na Terra mudou tanto nesses 4,5 bilhões de anos que a variedade de animais e plantas é tão grande...Evidentemente, se a Terra tivesse 6000 anos, não haveria tempo suficiente para que essas lentas alterações produzissem toda essa diversidade...
É com o belíssimo parágrafo abaixo que Darwin finaliza seu livro A Origem das Espécies:
"Não há uma verdadeira grandeza nesta forma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? Ora, enquanto que o nosso planeta, obedecendo à lei fixa da gravitação, continua a girar na sua órbita, uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas, saídas de um começo tão simples, não têm cessado de se desenvolver e desenvolvem-se ainda!"