sábado, 3 de outubro de 2009

Mais ceticismo....

Dando continuidade ao meu pretensioso manual sobre a importância do ceticismo, já falei que existem vários motivos para sermos cuidadosos em relação às nossas crenças. Isso por que invariavelmente caímos em “armadilhas” quando nos deparamos com informações...fomos programados para preferir histórias à estatísticas, não suportamos o papel do acaso e das coincidências, gostamos de simplificar nosso raciocínio, confiamos demais em nossas lembranças, e temos a tendência inata de ignorar evidências que contradizem nossas idéias...ou seja, buscamos sempre “confirmar” o que já acreditamos...Se gostamos muito de cerveja, iremos prestar enorme atenção à reportagem que destaca seus benefícios à saúde, mas pularemos a página da revista que lista os malefícios potenciais do álcool. Isso é conhecido como “estratégia confirmatória”...usamos todo o nosso poder de persuasão para nos convencer que nossas crenças estão corretas...Como disse Michael Shermer, “pessoas inteligentes acreditam em coisas bizarras porque são habilidosas em defender as crenças estabelecidas por motivos não-inteligentes”. Se admiramos um goleiro, procuramos de todas as formas por falhas nos defensores, ou no gramado, que justifique o gol tomado. Caso contrário, ignoramos qualquer evidência que vá a seu favor, e determinamos: frangueiro!

E isso vale para tudo: pessoas que não gostamos, quando erram, nos dão a delícia da confirmação...mas nunca paramos para observar as boas obras que realizam. Um lugar muito fácil de observar essa nossa tendência é durante um jogo de truco, com jogadores experientes (isso vale pra qualquer jogo de azar...). Todos são orgulhosos de suas estratégias infalíveis, e quando ganham nunca deixam de bradar suas brilhantes “sacadas”. Mas quando perdem nunca foi seu sistema de jogo o culpado, mas eventos aleatórios fora de controle (o baralho, o corte, o outro que jogou antes da hora, etc...). Todos nós, quando temos “orgulho” de alguma habilidade, racionalizamos nossos erros, falhas, perdas, fazemos qualquer coisa exceto admitir que podemos estar errados naquilo que acreditamos.

Um dos aspectos curiosos disso é que em muitos casos fazemos com que profecias se cumpram, e isso aumenta nossa convicção de que estávamos certos sobre nossa crença inicial. Profetizamos que um aluno é fraco, e terá resultados ruins ao final do ano, e passamos o período o tratando com negligência e descaso, dando muito mais atenção aos que considerávamos capazes...ao final do ano, ele é reprovado...estávamos certos sobre ele! Como sou bom em diagnosticar incapazes!

Gostamos de confirmar...gostamos de respostas positivas...como é bom ouvir um SIM...um exemplo interessante: pedimos para crianças fazerem perguntas para determinar um número entre 1 e 10.000. Se elas perguntam se o número está entre 1 e 5000 e ouvem um SIM, elas vibram. Caso ouçam um NÃO, mostram-se frustradas...apesar de terem obtido a mesma informação útil para a solução do problema! E assim somos programados desde crianças a preferir as confirmações...mas quando adultos, esse nosso traço de personalidade pode levar a conseqüências trágicas, quando ignoramos evidencias contrárias àquilo que queremos acreditar e insistimos em nosso ponto de vista (Os EUA invadiram o Iraque ignorando as evidências contrárias à existência de armas químicas...a frota americana no Pacífico foi destruída na 2ª Guerra porque o General estava certo que o Japão nunca os atacaria, apesar de vários alertas...).

“A causa fundamental dos problemas no mundo de hoje é que os estúpidos tem certeza absoluta, enquanto os inteligentes estão repletos de dúvidas” (Bertrand Russel)

Um comentário:

  1. Olá..
    estava lendo seu post, muito bom e realista.
    " quem somos nós neste mundo complicado?" ( do filme o caçador de pipas).
    Você já reparou que na história o heroi na verdade é o vilão. E assim continua, a verdadeira memoria do heroi é apagada, e se ñ buscamos saber a verdade jamais saberemos. Nossa a respeito disso tem muito assunto...que bom viver nessa época, poder abrir os olhos,(mente) sem correr o risco de acabar numa fogueira...
    Ass: Flores

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