terça-feira, 13 de outubro de 2009

SEXO!!!


Vou começar esse post com uma afirmação surpreendente: TODOS os nossos antepassados fizeram sexo! (claro, a partir do surgimento da reprodução sexuada...). Se por um acaso um deles tivesse reprimido, não estaríamos aqui...todos eles, sem exceção, alcançaram sucesso reprodutivo, ou seja, conseguiram sobreviver tempo suficiente, às vezes sob condições bastante inóspitas, até a idade reprodutiva, disputaram uma fêmea com diversos machos, conquistaram, seduziram e acasalaram, e foram os seus espermatozóides, e não de outros, que fecundaram o óvulo (evidentemente a ótica feminina é idêntica...todos os meus pais e mães experimentaram “daquilo” com sucesso). É óbvio que se estamos aqui isso aconteceu...e não estou me referindo aos antepassados humanos, mas todos os nossos ancestrais, como os que viviam no mar, ou os pequenos mamíferos contemporâneos dos dinossauros, milhões de anos atrás...No meu passado, existe um peixe esquisito que se tivesse optado pelo celibato, eu não estaria aqui!


Somos afortunados...bilhões de candidatos à existência nunca aconteceram, porque seus antepassados falharam em algum ponto anterior à reprodução. É incrível como alguns fatos da vida são ao mesmo tempo muito banais, mas muito assombrosos. Nós não apenas vencemos uma corrida com milhões de outros espermatozóides (sendo que cada um produz uma pessoa diferente, já que carrega outra combinação de gens...), mas descendemos de milhares de campeões de sobrevivência...


Após essa introdução, vou chegar onde gostaria: por que o assunto sexo é (e sempre foi) tão polêmico? Por que não pensamos em outra coisa? Por que ninguém (absolutamente ninguém...) consegue ficar sem pelo menos pensar nisso? Por que, mesmo após milhares de anos de repressão religiosa, essa continua sendo a maior fixação humana?

As respostas para essas perguntas, como já devem ter adivinhado, passam pela evolução humana. Como disse o famoso biólogo Dobzhansky, “nada em biologia faz sentido exceto sob a luz da evolução”. Imaginem só...por milhões de anos, os animais que mais deixaram descendentes foram os que mais fizeram sexo...então houve uma pressão evolutiva no sentido de privilegiar gens que tornavam seus hospedeiros mais “safados”...se eu sou um gen que controla uma proteína, que por sua vez atua na produção de hormônios sexuais, ou qualquer substância que nos auxilie a ficar “prontos” na presença de uma fêmea

(já sabemos que nosso principal órgão sexual é o cérebro...O chamado diencéfalo ou cérebro primitivo, comum a todos os mamíferos, intervém através do hipotálamo no desejo, no interesse sexual e também recolhe as informações que chegam do exterior e dos hormônios, controlando e dando as respostas da excitação sexual, ejaculação, sensações de prazer e regulando as respostas emocionais e afetivas no comportamento sexual)


com certeza estarei presente em praticamente todos os seres futuros...então o conjunto de gens que, quando reunidos no mesmo organismo, o tornam “super safado”, será cada vez mais comum com o passar do tempo. E acho assombroso perceber que somos fruto de milhões de anos de seleção dos mais safados...(machos e fêmeas...) e só agora (em termos evolutivos, ontem. Se a história da vida ocorresse em um ano, passamos 364 dias, 23 horas e 45 segundos fazendo o máximo de sexo que podemos suportar, sem pudor, regras sociais, medo de AIDS, etc) começamos a tentar reprimir esse processo...Fomos “programados” para pensar em sexo o tempo todo...antes de nós, todos os animais “celibatários” foram extintos, e graças ao bom deus seus gens masturbadores foram com eles...Não é à toa que as religiões perderam a batalha para a pornografia...levaremos outros milhões de anos para selecionar gens castos, e isso apenas se descobrirem alguma vantagem nesse absurdo...

A repressão aos instintos é um dos pontos centrais de qualquer religião, e mais ainda o instinto sexual, já que nada que fazemos é mais primal, animalesco, incontrolável, e até hoje idêntico a vários outros animais. Ver duas pessoas liberando suas fantasias primitivas nos mostra o quanto somos animais, e esculhamba com a tese religiosa da “criação especial”, “imagem e semelhança” (dá pra imaginar deus, ou deusa, se vestindo de bombeiro ou enfermeira...aquela roupinha de Zeus...aiai...)...quem já assistiu aos bonobos fazendo sexo sabe que “papai e mamãe”, “cachorrinho”, “canguru perneta”, “69” não são nossas criações, apenas imitamos esses primos luxurientos...

Evidentemente, a vida numa sociedade organizada só é possível dentro de certas regras de comportamento, e a formação de núcleos familiares também foi importante evolutivamente. Gens que ajudam a produzir animais fiéis, que permanecem junto à fêmea, protegendo suas crias, também foram selecionados. De nada adianta gerar um monte de filhotes, se eles não chegarem à idade reprodutiva...Mas nada mais anti-natural que o celibato...e isso é bem demonstrado pelos inúmeros casos de padres pedófilos, freiras grávidas, etc...

Infelizmente, a repressão sexual imposta pelas religiões só produziu pessoas doentes, infelizes, mal resolvidas...e um monte de órfãos de pai....


É importante, para finalizar, esclarecer que as pressões pela safadeza não atuaram apenas nos machos. O clitóris, a lubrificação, o entumescimento dos seios, o arrepio atrás da orelha, essas coisas só existem por ser fundamental que as fêmeas gostassem da coisa...

sábado, 3 de outubro de 2009

Mais ceticismo....

Dando continuidade ao meu pretensioso manual sobre a importância do ceticismo, já falei que existem vários motivos para sermos cuidadosos em relação às nossas crenças. Isso por que invariavelmente caímos em “armadilhas” quando nos deparamos com informações...fomos programados para preferir histórias à estatísticas, não suportamos o papel do acaso e das coincidências, gostamos de simplificar nosso raciocínio, confiamos demais em nossas lembranças, e temos a tendência inata de ignorar evidências que contradizem nossas idéias...ou seja, buscamos sempre “confirmar” o que já acreditamos...Se gostamos muito de cerveja, iremos prestar enorme atenção à reportagem que destaca seus benefícios à saúde, mas pularemos a página da revista que lista os malefícios potenciais do álcool. Isso é conhecido como “estratégia confirmatória”...usamos todo o nosso poder de persuasão para nos convencer que nossas crenças estão corretas...Como disse Michael Shermer, “pessoas inteligentes acreditam em coisas bizarras porque são habilidosas em defender as crenças estabelecidas por motivos não-inteligentes”. Se admiramos um goleiro, procuramos de todas as formas por falhas nos defensores, ou no gramado, que justifique o gol tomado. Caso contrário, ignoramos qualquer evidência que vá a seu favor, e determinamos: frangueiro!

E isso vale para tudo: pessoas que não gostamos, quando erram, nos dão a delícia da confirmação...mas nunca paramos para observar as boas obras que realizam. Um lugar muito fácil de observar essa nossa tendência é durante um jogo de truco, com jogadores experientes (isso vale pra qualquer jogo de azar...). Todos são orgulhosos de suas estratégias infalíveis, e quando ganham nunca deixam de bradar suas brilhantes “sacadas”. Mas quando perdem nunca foi seu sistema de jogo o culpado, mas eventos aleatórios fora de controle (o baralho, o corte, o outro que jogou antes da hora, etc...). Todos nós, quando temos “orgulho” de alguma habilidade, racionalizamos nossos erros, falhas, perdas, fazemos qualquer coisa exceto admitir que podemos estar errados naquilo que acreditamos.

Um dos aspectos curiosos disso é que em muitos casos fazemos com que profecias se cumpram, e isso aumenta nossa convicção de que estávamos certos sobre nossa crença inicial. Profetizamos que um aluno é fraco, e terá resultados ruins ao final do ano, e passamos o período o tratando com negligência e descaso, dando muito mais atenção aos que considerávamos capazes...ao final do ano, ele é reprovado...estávamos certos sobre ele! Como sou bom em diagnosticar incapazes!

Gostamos de confirmar...gostamos de respostas positivas...como é bom ouvir um SIM...um exemplo interessante: pedimos para crianças fazerem perguntas para determinar um número entre 1 e 10.000. Se elas perguntam se o número está entre 1 e 5000 e ouvem um SIM, elas vibram. Caso ouçam um NÃO, mostram-se frustradas...apesar de terem obtido a mesma informação útil para a solução do problema! E assim somos programados desde crianças a preferir as confirmações...mas quando adultos, esse nosso traço de personalidade pode levar a conseqüências trágicas, quando ignoramos evidencias contrárias àquilo que queremos acreditar e insistimos em nosso ponto de vista (Os EUA invadiram o Iraque ignorando as evidências contrárias à existência de armas químicas...a frota americana no Pacífico foi destruída na 2ª Guerra porque o General estava certo que o Japão nunca os atacaria, apesar de vários alertas...).

“A causa fundamental dos problemas no mundo de hoje é que os estúpidos tem certeza absoluta, enquanto os inteligentes estão repletos de dúvidas” (Bertrand Russel)