domingo, 8 de fevereiro de 2009

Saiamos do armário...

Drauzio Varella: "Não sou religioso. Respeito todas as crenças, mas os religiosos não têm nenhum respeito pelas pessoas sem fé. Quando digo que não tenho religião, acham que sou imoral. É como se eu tivesse parte com o diabo.
Quando tinha 10 anos fiz a primeira comunhão. A professora de catecismo dizia que não pode morder a hóstia, porque um menino na França tinha mordido a hóstia e tinha saído sangue pela boca. Fiquei com aquilo na cabeça. Na primeira comunhão eu não tive coragem, mas, uma semana depois, um tio fez bodas de prata e teve uma missa. Aí fui lá receber a hóstia, voltei para o meu lugar e mastiguei. Não saiu nada e eu virei ateu naquele momento. A partir daí, sempre que ouvia as aulas de religião no colégio pensava que aquilo podia ser mentira. E quando você começa a fazer isso com religião é devastador, porque é uma questão de fé, religião não admite racionalidade."


Sim, eu sou ateu. Tenho uma visão naturalista do Universo, onde misticismo, sobrenatural e superstições não tem lugar. Não acredito em Deus pelo mesmo motivo que não acredito em astrologia, horóscopos, homeopatia, triângulo das bermudas, ET de Varginha, interpretação de sonhos, grafologia, feng shui, Pé Grande, Monstro do Lago Ness, lua cheia que faz crescer cabelo, gato preto, aromaterapia, alma, chacras, sexo tântrico, anjos, demônios (acho que já deu pra entender, né?)....nada disso se baseia em evidências, e acreditar baseado em evidências é a base da razão, caso contrário tudo se torna possível. Pra mentes racionalistas, isso é básico.

Gosto muito da frase:
"Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender porque é que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá porque é que eu rejeito o seu" (Stephen Henry Roberts).

As pessoas que nos olham como se tivéssemos chifres nunca pensaram que elas mesmas não acreditam em Zeus, ou Amon-Rá, e que a única diferença entre nós é que eu não acredito nem nos antigos nem nos atuais seres mitológicos...

Aliás, definição de mitologia: é o nome que damos às religiões dos outros...

Me revolta a expressão de decepção no rosto das pessoas quando exponho minha opção religiosa...a conversa está ótima, estamos descobrindo afinidades, ambos queremos ajudar a construir um mundo melhor e mais justo...mas tudo vai por água abaixo...eu não acredito em Jeová...tenho parte com o cão...
Afinal de contas, é tão difícil assim para as pessoas místicas entenderem que existem diferentes formas de se enxergar a vida, e que todas elas merecem respeito? Porque o fato de acreditar em algo sobrenatural torna alguém melhor, mais bondoso, mais ético? Então somos bons por medo do fogo eterno ou por almejar o paraíso?
E se os ateus acreditassem realmente que “sem deus tudo é permitido”, porque, apesar de sermos 8% da população, representamos menos de 1% dos presidiários?

Não sei bem onde li esses dias sobre o discurso de posse do Obama, onde ele inclui os “descrentes” (non-believers) ao lado de cristãos, judeus, hindus, etc...e não sei bem porque esse pequeno detalhe me fez mais otimista, assim, de uma hora pra outra. Como se isso fosse uma indicação de que o preconceito aos ateus estaria em declínio. Com certeza é mais uma indicação de que os tempos obscurantistas chegaram ao fim no governo dos EUA, e isso é maravilhoso. O abobalhado presidente anterior havia dito que nós ateus nem cidadãos deveríamos ser considerados. Mas será que a nossa imagem vai melhorar, de alguma forma, nos próximos anos? Podemos ter esperanças de um dia eleger um presidente ateu?

Pra terminar por hoje, Carl Sagan:
"Hipátia (370-415 DC), filha de Theron, era uma cientista, matemática, astrônoma, líder da escola de filosofia neo-platônica e diretora da Biblioteca de Alexandria. Cirilo, o arcebispo de Alexandria, a odiava por ela ser um símbolo da ciência e da cultura que, para a igreja primitiva, representavam o paganismo. Ela continuou seu trabalho apesar das ameaças até que, no ano de 415, foi cercada pelos monges e paroquianos de Cirilo, despida e esfolada até a morte com cacos de cerâmica. Seus restos foram queimados, suas obras destruídas e Cirilo foi canonizado."

Um comentário:

  1. Fábio...Evite conversar de religião com essas pessoas intolerantes. Elas talvez ainda não tenham atingido um grau evolutivo suficiente para que mereçam compartilhar de seus livres e interessantes pensamentos sobre este assunto. Com certeza, elas se decepcionariam igualmente se você tivesse dito que acredita em qualquer outro deus que não fosse o delas. E o que é pior: Elas tentariam convencê-lo de que estaria condenado ao inferno por ser ateu. Eu já não sigo nenhuma religião há muito tempo, mas até bem pouco acreditava em Deus. Há uns dois anos atrás, conheci um professor que dava aulas na mesma escola que eu, e que uma vez me contou que era ateu. Ao invés de me mostrar decepcionado por ele não pensar exatamente como eu, naquela época, esse fato foi motivo para que conversássemos cada vez mais, para que eu entendesse melhor o seu diferente ponto de vista. Fui criado em um ambiente católico, e assim como Dráuzio Varella, comecei a perceber já de criança, alguns "furos" no catolicismo. E quanto mais o tempo passa, mais eu me decepciono em ver como as religiões são usadas para atrapalhar a Ciência, enganando as pessoas a respeito de temas como milagres, sacrifícios, abstinência, jejum, pecado, inferno, e assim por diante. Posso agora entender melhor como é difícil para elas admitirem que Deus é apenas uma invenção de nossas mentes. Na verdade, para mim, ele tenha sido idealizado para funcionar como uma espécie de baú, dentro do qual jogaríamos e trancaríamos tudo o que fosse inexplicável, ou proibido de se pensar. Assuntos como origem do universo, origem das espécies, ou da razão de estarmos aqui. Fico imaginando se o mundo não tivesse tido o privilégio da existência de pessoas como Galileu e Darwin, e tantos outros que ousaram pensar e questionar o inquestionável para a igreja e para as sociedades tradicionalistas e hipócritas de suas épocas.
    Acho que já era hora, depois de tanto tempo de civilização, de já estarmos vivendo em uma sociedade mais avançada, em que cada cidadão pudesse não ter receio em expor livremente suas idéias sobre religião, sem serem vistos com estranheza.
    Como você diz, já há alguns motivos recentes para sermos otimistas.
    Abraços, e parabéns pelo belo post !

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