quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Da família de Abrahão...

Uma das coisas que mais me intriga quando me ponho a tentar entender a mente dos religiosos (nesse caso específico os católicos e seus subprodutos...) é a relação deles com a Bíblia. Até hoje encontrei dois tipos de crentes: os que reconhecem a existência de passagens “incompreensíveis” aos olhos atuais e aqueles que consideram cada palavra como realmente a vontade literal de Deus (ou seja, a Bíblia teria sido ditada e revisada por ele antes de ser publicada...).

No primeiro grupo estão pessoas que se dizem mais “modernas”, ou seja, para elas acreditar literalmente na Bíblia seria um sinal de fanatismo absurdo. Assim, as passagens onde Deus ordena/aprova massacres, infanticídios, incesto, escravidão, tortura, ou até quando ele pessoalmente comete horrores,

(ABRINDO UM PARENTESES - lembro quando li pela primeira vez – faz pouco tempo – o episódio da fuga da família de Lot (sobrinho de Abrahão) de Sodoma. Um anjo os salva do massacre para logo em seguida transformar a esposa em estátua de sal pelo crime de curiosidade e, naquela noite, suas duas filhas embebedam o pai com vinho, dormem com ele, engravidam e dão a luz a seus herdeiros...(seria esse o melhor sobrinho de Abrahão?). Achei que era um exemplo raro de mau gosto, mas encontrei outro trecho, em outro livro da Bíblia, em que aldeões cercam a casa de um homem de bem, pedem para que ele entregue seu visitante, ele se recusa a entregar o amigo mas oferece a esposa no lugar, dizendo que poderiam fazer com ela o que quisessem. Ela é sodomizada durante toda a noite, aparecendo morta pela manhã em frente a porta de casa. Ele então a corta em vários pedaços e espalha pela cidade (não sei dizer se Abrahão tinha alguma relação com esse aí)...é por trechos machistas assim, comuns em toda a Bíblia, que estou convencido que as mulheres nunca leram com atenção esse livro...),

são na verdade meios metafóricos que ele encontrou pra fazer com que as pessoas daquela época entendessem suas mensagens, e portanto não podem ser consideradas atualmente “ao pé da letra”...Essa defesa da Bíblia sempre me pareceu estapafúrdia, já que ele é um Deus onisciente, e portanto sabia que sua obra literária iria ser julgada numa época em que o simples “pensar em degolar o próprio filho” seria considerado doentio. E ele também é onipotente, ou seja, com certeza ele poderia ter pensado em dezenas de exemplos simples e edificantes para transmitir sua moral ao povo. Os orientais possuem guias morais escritos centenas de anos antes de Cristo que são verdadeiras obras-primas, jamais recorrendo a banhos de sangue para transmitir seus ensinamentos. Qualquer pseudo-escritor (nessas horas o nome do Paulo Coelho me vem a cabeça, apesar de nunca ter lido um livro dele...) consegue criar lindas estorinhas que nos emocionam e ensinam. E ele pega a única mãe decente de toda uma cidade e transfoma em sal porque ela olhou pra trás! Tenho certeza que algum defensor desse livro dirá que foi pra evitar que a pobre mulher visse suas filhas copulando com o pai...
Ou seja, aqueles que na verdade posam de moderninhos, mas se mantém fiéis ao livro, são na verdade tolos que nunca o leram. Ou leram só aquelas partes que são lidas nos cultos (não que essas partes sejam muito melhores...me intriga também nunca ter visto alguém subir ao púlpito e ler o trecho do esquartejador acima...ou o do pai enólogo e distraído...sempre quis fazer isso, adoraria observar a expressão dos fiéis...e imagino que muitos aparentariam estar emocionados com a beleza da narrativa...). E pior ainda quando resolvem apelar (e todos chegam nesse ponto...), por falta completa de um argumento racional, para a máxima de que nem tudo o que está escrito na Bíblia deve ser seguido, na verdade apenas as partes “bonitas”. Deus então deveria ter publicado também um guia para nos orientar sobre o que deve ser levado a sério, e o que é apenas metáfora. Quem decide? Ele, como bom onisciente, sabia que muitas pessoas levariam a sério a ordem para apedrejar homossexuais, adúlteros, prostitutas, etc. A escravidão foi defendida com base nesse livro. Muito sangue já foi derramado por intérpretes da Bíblia. Existe explicação para um ser onipotente e onisciente deixar pistas falsas sobre o universo que ele mesmo criou? Qual seria o prejuízo em criar uma metáfora para transmitir conceitos verdadeiros? E se admitimos que partes da Bíblia não são verdade, como podemos confiar que o restante seja?
E aí é que eu acho que entram os crentes do segundo grupo...esses pelo menos já perceberam que aceitar qualquer rachadura nas suas crenças seria o início do fim. Então eles não admitem nem considerar a hipótese de discutir sobre elas. Parecem mais fanáticos (alguns realmente o são), mas na verdade são apenas mais medrosos e mentalmente preguiçosos, porque sabem que se deixarem entrar uma frestinha de luz, poderão ter seu conforto abalado.
É muito intrigante pra mim que as pessoas não entendam que assumir que a Bíblia é apenas mais um livro não invalida a possibilidade da existência de um Deus...você pode continuar acreditando num ser superior extraordinário (mais extraordinário ainda por não ser autor de uma obra tão bizonha) sem abdicar completamente de seu senso crítico...
Eu mesmo acho tudo isso que escrevi bastante bobo e infantil, e por isso mesmo me assombra ter que discutir isso com adultos. E eu sei que parece que estamos falando de pessoas semi-analfabetas, que não tiveram o menor acesso à informação...mas não é assim...o conforto proporcionado por esse colo protetor sobrenatural arrebata até mentes bastante preparadas...
Esse assunto deve retornar no futuro, mas gostaria de terminar por hoje em alto-astral, como prova de que não sou preconceituoso, citando uma linda passagem bíblica: (Números 31:17,18) – Matai, pois, todos os varões, mesmo os de tenra idade, e degolai as mulheres que tiveram deitado com homens; mas reservai para vós as donzelas...

2 comentários:

  1. A maioria das pessoas que conheço e que são evangélicas, por exemplo, ao serem questionadas sobre essas aberrações deste livro em que se “amuletam”, dizem que são metáforas. No entanto, sobre as outras passagens do mesmo livro que lhes convém para serem usadas como exemplos da bondade divina, tais como os famosos milagres, tentam nos convencer de que devemos interpretá-las rigorosamente da forma como estão escritas. Mas essa diferenciação argumentativa que elas fazem é proposital, apenas para que tentem insistentemente se convencer, através de palavras repetitivas, de que tudo o que está escrito ali é divino e inquestionável. Lamento que, na maioria das vezes, são pessoas que só se permitem ou são permitidas a ler artigos aprovados ou escritos por seus pastores, pois já perderam totalmente a capacidade do livre pensamento.
    Entrei no site "O Dragão da Garagem", li um post antigo sobre a infiltração das pseudociências nas Universidades e fiquei impressionado. Estou me interessando por esses artigos, e repensando em muitas coisas que antes me foram colocadas como absolutamente verdadeiras, pela família, por amigos ou outras formas de influência. E é incrível como vou me sentindo mais leve, livre deste peso pela culpa do “pecado original” que me foi imposta logo que nasci . Aliás, se Deus existe mesmo, não creio que aprovaria uma condenação prévia como essa. Tenho confiança de que mais cedo ou mais tarde, a humanidade encontrará seu caminho, livre dessas amarras.
    Lembre-se, você nunca está sozinho, pois a Internet é onipresente (*)

    (*) Aviso: Não quero deixar dúvidas – Somente a última frase do texto é metafórica!

    Abraços.

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  2. O que mais me impressiona, Jairo, é jamais ter encontrado um único argumento medianamente inteligente que explique os absurdos descritos na Bíblia. Uma pergunta simples, como "Porque Deus não pensou em algo melhor do que ordenar massacres para transmitir sua mensagem?" merecia algo mais sensato do que "foi o que se pode arrumar para a época...". Pior ainda é ouvir "os povos da época mereciam as punições..." Caracas, eram filhos dele, por piores que fossem...que deus é esse?
    Mudando de assunto: gostei muito do seu blog, não estranhe caso eu me inspire nele...abraços.

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